domingo, 7 de abril de 2013

Peixe-Escorpião


Ecologia

A coloração nestes animais é importante. Graças ao padrão variável e cores quentes que cobrem o seu corpo são capazes de se confundir voluntariamente com o fundo desaparecendo do olhar dos seus predadores e das suas presas. O mimetismo chega, nalgumas espécies, à associação de outros organismos. É, por este facto, possível observar um peixe escorpião com pequenos gastrópodes, ou com hidrozoários ou poliquetas a crescer sobre o seu corpo.
Esta capacidade de “passar desapercebido” é essencial para a estratégia de alimentação, já que, geralmente, estes animais ficam imobilizados sobre o fundo até que uma presa passe por perto. Nesse momento, projectam-se sobre ela e, com a sua boca criam um vácuo que a suga. O acto de sugar dura um instante (ca. 15 milissegundos), o que dificulta a fuga da presa. As presas mais comuns deste predador bentónico incluem rainhas, peixes-rei, gorazes juvenis, pequenos crustáceos e cefalópodes.
Para se protegerem dos predadores, a maioria das espécies de peixes escorpião, para além da coloração e da mobilidade reduzida, apresenta sistemas físicos de defesa como é o caso de espinhos ao longo do corpo e nas barbatanas. Algumas espécies, como o Scorpaena maderensis, possui um veneno que injecta quando pressionado. Quando sentem perigo, e de forma a afastar eventuais predadores, os peixes escorpião costumam assumir uma postura ameaçadora eriçando expressivamente os seus espinhos venenosos.

Realce-se que a estratégia de reprodução varia conforme a espécie de peixe escorpião. Embora a maioria das espécies tenham fecundação interna, algumas espécies são ovovivíparas (Pterois volitans), outras ovíparas (e.g. Scorpaena notata) e, imagine-se, algumas são mesmo vivíparas (e.g.Sebastes paucispinis). A reprodução varia conforme a espécie. No caso do S. maderensis, ela ocorre entre Março e Junho, apresentando posturas faseadas ou múltiplas. As posturas de ovos estão protegidas por uma massa gelatinosa flutuante que ajuda a aumentar o raio de dispersão dos novos indivíduos.

O peixe desta família mais apetecido para o caçador submarino e para o pescador é o rocaz. No entanto, para a preservação da espécie, o caçador ou pescador consciente não deveria capturar indivíduos anteriores à primeira maturação. Ou seja, no caso do rocaz em particular, não se deve capturar indivíduos com menos de 2 anos, o que significa com comprimentos inferiores a 30cm (ca. 500g). Em termos de vulnerabilidade, aceita-se que uma população desta espécie pode ficar em risco de extinção se se pescar abaixo dos tamanhos de primeira maturação durante 10 anos. Estes estudos deresiliência são muito importantes e dos mais difíceis em ecologia. Daí que uma aproximação precaucionária exija o respeito pelos tamanhos mínimos, épocas de defeso e zonas protegidas.


Identificação

Apesar da família ser conspícua e distinta das restantes famílias de peixes, não é fácil distinguir as diferentes espécies presentes nas nossas águas. Para fazer uma identificação correcta e científica é necessário contar o número e disposição de espinhos na cabeça, entre outras características mais ou menos conspícuas. No entanto, quando estiver na presença destes animais tenha em atenção o tamanho, a forma e quantidade de barbilhos no maxilar inferior e o padrão da coloração dorsal. Se tiver dimensões reduzidas (inferiores a 25 cm), bandas corporais sobre fundo cinzento a acastanhado e pequenos e escassos barbilhos brancos deverá estar na presença de um Scorpaena maderensis. No caso de não ter quaisquer barbilhos poderá ser um S. notata. O S. porcus tem uma camuflagem perfeita (pelo que passa muitas vezes completamente despercebido), não tem apêndices por baixo do maxilar inferior e apresenta uns pequenos mas complexos “cornichos” por cima dos olhos. Se os tons do corpo forem castanho escuro estará provavelmente na presença de um S. laevis. Se as dimensões forem elevadas (superiores a 30 cm) e com fartos barbilhos no maxilar inferior, então, estará provavelmente na presença de um S. scrofa.
Os restantes peixes não costumam frequentar as mesmas profundidades que os mergulhadores, por isso não é essencial descrever aqui métodos práticos para a sua identificação.


Veneno

Se tiver o azar de tocar num peixe-escorpião o mais natural é ser injectado pelo seu veneno. Tome em atenção que o peixe escorpião nunca o atacará. Se for injectado é porque, voluntária ou involuntariamente, o encurralou ou o calcou. Se tiver alguma razão para crer que a espécie que o injectou pode ser do Género Synanceia (peixes-pedra) Corra, ou faça-se transportar para a urgência de um hospital ou para um lugar onde seja provável existirem medidas de suporte. Este grupo de espécies, que não ocorre no Atlântico, é extremamente perigoso e pode matar em pouco tempo. Existe um antídoto, mas tem de ser aplicado imediatamente após a picada.
As restantes espécies não são, na maioria dos casos, letais para o homem. Em termos cronológicos a primeira sensação, depois de uma picada de peixe escorpião, é a dor ou dormência. Esta terá o seu máximo uma a duas horas depois do evento. A dor, em si, pode durar até 12 horas. Depois desse período, pode ainda causar uma sensação incómoda durante dias a semanas. A dor pode ser acompanhada de ferida, sendo esta punctiforme (um ou mais pontos), que pode evoluir para vesículas (em particular nas mãos) e a que está sempre associado um grau variável de edema. A agravar o quadro, todos estes eventos podem ser acompanhados de náuseas, enfraquecimento, perturbações respiratórias e tensão arterial baixa...
Como se disse, se nas duas horas a seguir ao acidente a intensidade destes sintomas for grande - ou na dúvida - deverá recorrer a um serviço de urgência hospitalar. Não hesite neste passo, a diferença pode ser um resto de férias estragado. Enquanto a vítima não for entregue aos cuidados médicos poderá fazer algumas coisas: delicadamente remova os espinhos visíveis (guarde-os, pois podem ser úteis na identificação da espécie), administre um analgésico para reduzir a dor, em caso de hemorragia pressione directamente para a controlar e, em certos casos extremos, terá de realizar a CPR - ressuscitação cardio-pulmunar (esperemos que esteja preparado para a fazer). Se possível ligue para o Centro de Intoxicações (telefone - 808250143), aí saber-lhe-ão indicar o que deve fazer de acordo com o acidente que descrever. No momento da entrega da vítima aos cuidados médicos deverá ter em atenção: 1) informar que esta foi vítima de uma picada de peixe escorpião indicando, se possível, a espécie (entregar eventuais espinhos); 2) relatar os sintomas e a operação de manutenção/recuperação seguida até aí 3) descrever eventuais alergias ou outros problemas crónicos da vítima.
Não aconselhamos, mas em casos menores, poderá utilizar o método dos pescadores algarvios, que consiste em queimar, com a ponta de um cigarro, o local da lesão.
O melhor é seguir algumas regras básicas: não andar descalço nas zonas húmidas da praia ou nas poças de água salgada, particularmente à noite. No caso do mergulho, não pensar que o fato é obstáculo para os peixes escorpião! Os raios penetrarão tão facilmente estes obstáculos como se fosse a própria pele. O melhor é mesmo não tocar no fundo, não se esqueça que estes animais são extremamente miméticos. Normalmente, nota-se a presença de um peixe escorpião quando é tarde demais.

 Outras Curiosidades

Alguns destes peixes têm valor comercial e são utilizados para a alimentação. Neste caso estão incluídos os rocazes. Em Portugal são também muito apreciados os boca-negra e os cantarilhos, essencialmente capturados por linha e anzol.
Ao contrário do senso comum, os peixes-leão (como o Pterois volitans) são os menos venenosos dos peixes escorpião. Nesta escala ascendente, seguem-se os Scorpaena spp. e no topo está o Synanceja verrucosa, considerado o peixe mais venenoso do mundo. Este último é vendido vivo nos mercados de Hong-Kong. Serve para alimentação, mas também é utilizado como peixe ornamental em aquários.

Nos Açores ocorrem 11 espécies de peixe-escorpião, sendo a mais comum Scorpaena maderensis e a mais rara S. azorica. Esta última foi considerada endémica dos Açores durante muito tempo. No entanto, recentemente, um segundo exemplar foi encontrado no Mediterrâneo, sendo esta apenas a segunda vez que se observou esta espécie!



  



Biografia